07 outubro 2014

Entendendo a Dermatite Atópica (Atopia)

 COCEIRA CRÔNICA EM CÃES E GATOS - ENTENDENDO A DERMATITE ATÓPICA

  1.     O que é dermatite atópica?

     1.  O que é dermatite atópica?

A dermatite atópica  ou atopia é uma doença alérgica, inflamatória da pele,  multifatorial, de ordem genética, que acarreta coceira crônica, constante, de intensidade variável decorrente de  alterações na barreira cutânea, e também de uma hiperreatividade (hipersensibilidade) do sistema imunológico frente a diversos alérgenos (agentes presentes no ambientes capazes de estimular o sistema imunológico, como ácaros da poeira doméstica, epitélio de insetos, bolores e fungos do ambiente, pólens de gramas, flores, árvores).

2. Alterações da barreira cutânea x dermatite atópica

A pele é maior órgão do organismo e tem como principais funções  a proteção contra agentes externos, fatores físicos, e substâncias químicas, e também a função de manter a hidratação.

Em animais com dermatite  atópica a barreira cutânea encontra-se alterada. Nestes animais há menor produção de proteínas, lipídeos e ácidos graxos, responsáveis por manter as células da pele unidas. A deficiência destas substâncias faz com que os espaços entre as células da pele aumentem, facilitando a perda de água pela, ocasionando ressecamento e facilitando a penetração de agentes externos na pele.

 Além disso, a pele dos animais atópicos produz menos substâncias capazes de controlar a população de bactérias e leveduras na pele, o que faz com que estes animais tenham frequentemente episódios de infecção bacteriana (piodermite superficial) ou fúngica (malasseziose tegumentar).
Pele de um animal saudável - células da pele unidas e pequena quantidade de bactérias e leveduras na superfície

Pele de um animal com dermatite atópica - células da pele todas separadas, grande quantidade de bactérias e leveduras na superfície



     3. Hiperreatividade cutânea x dermatite atópica

Cães com dermatite atópica, por apresentarem deficiência na barreira cutânea, se tornam mais susceptíveis a penetração de substâncias irritantes, alérgenos ( fatores que causam alergia) e microorganismos como fungos e bactérias na pele. A frequente e repetitiva exposição a estes agentes, faz com que as células do sistema imunológico presentes na pele do animal atópico, torne-se sensibilizada e hiper-reativa a eles, levando a liberação de diversas substâncias que causam coceira e inflamação a cada novo contato.

Os principais agentes externos que contribuem e perpetuam a hiper-reatividade cutânea compreendem:

a.     Aeroalérgenos: ácaros, bolores, pólens
b.     Microorganismos: bactérias e leveduras residentes da pele
c.      Irritantes cutâneos: cobertores, roupinhas de lã, soft, tricô, flanela, carpetes, tapetes, produtos de limpeza, perfumes, material de contrução, resina urticante presente nas gramas e gramíneas
d.     Alimentos: principalmente de origem alimentar (carne de frango, bovina, leite e derivados, ovo) e também de origem vegetal (soja, milho, trigo)
e.     Picada de insetos: pulgas, carrapatos, mosquitos

    4.     Quais  principais sintomas de dermatite atópica?

O principal sintoma da dermatite atópica é a coceira, normalmente de forma constante, crônica, recidivante, de intensidade variável desde leve a intensa. O comportamento de coçar pode ser evidenciado pela coçar com as patas, roçar em moveis, paredes e tapetes, lambedura ou mordiscamento das patas. A coceira é o sintoma que mais incomoda os animais, podendo estar presente mesmo quando não há lesões na pele. Os animais podem ainda apresentar lesões de pele, como vermelhidão (eritema), espessamento da pele, aumento da pigmentação com escurecimento da  pele, pápulas (bolinhas vermelhas), escoriações, alterações na oleosidade da pele e crostas amareladas. É frequente a infecção secundária por bactérias e leveduras, levando respectivamente a quadros de piodermite e malasseziose tegumentar

     5.     Quais os locais mais afetados na dermatite atópica?

    Os locais mais acometidos na dermatite atópica são: quadros de otites repetitivos,       patas principalmente as regiões interdigitais, região inguinal, região axilar, região cervical ventral, peitoral, região periocular e região perilabial e região de flexuras e dobras ( prega inguinal, flexura cranial do cotovelo)

  6.     Como o diagnóstico de dermatite atópico é estabelecido?

O diagnóstico da dermatite atópica é estabelecido através do histórico do animal associado ao quadro clínico, sendo necessário descartar outras doenças que levam a coceira como doenças parasitárias: escabiose, infeções bacteriana e fúngicas, alergia à picada de insetos e alergia alimentar. Resumindo, pode-se dizer que o diagnóstico da dermatite atópica é clínico e por exclusão de outras doenças de pele que desencadeiam coceira (prurido).

 7.  A realização de testes alérgicos é necessária?

O diagnóstico definitivo da atopia é clínico, ou seja, é baseado pelo histórico do animal e pela características das lesões, e também pela  exclusão de outras doenças que levam coceira ( descritas no tópico acima). Somente nos animais em que a diagnóstico de atopia já foi estabelecido os teste alérgicos devem ser utilizados. A realização dos testes alérgicos visa identificar os fatores ambientais que contribuem para a alergia, como intuito de diminuir a exposição a eles e com o intuito de iniciar o tratamento através do emprego de "vacinas para alergia" ( imunoterapia)

     8.     Como é feito o tratamento da dermatite atópica?

A dermatite atópica é uma doença incurável, isto significa que não é possível curá-la, o tratamento visa diminuir os sintomas clínicos e permitir uma melhor qualidade de vida com o bom controle da doença. Para o tratamento, é necessária a adoção de várias medidas terapêuticas de forma conjunta para obter maiores chances de controle da doença, como:

a.     Diminuição da exposição à aerolérgenos ambientais como: poléns, gramíneas, bolores e fungos          do ambiente, ácaros da poeira doméstica
b.     Eliminar infecções secundárias como aquelas causadas por fungo e bactérias
c.     Evitar a exposição à pulgas e carrapatos
d.     Diminuir coceira e inflamação através do uso de medicamentos
e.     Diminuir a hiperreatividade do sistema imunológico através   através de imunoterapia ( vacinas          para alergia)
e.     Hidratação da pele e recuperação da barreira cutânea

      O tratamento é individual para cada animal, o médico veterinário analisando cada caso estabelecerá uma terapia que deverá ser mantida por toda vida do animal afim de se manter a doença sob controle, com o tratamento e medicação é possível oferecer animal controle da doença e assim melhorar sua qualidade de vida

     Fonte: Dra Camila Domingues de Oliveira - CRMV/SP 19316


06 outubro 2014

SARNA DEMODÉCICA


A sarna demodécica, também conhecida como demodicidose ou sarna negra, é uma doença parasitária causada pela proliferação excessiva de ácaros do gênero  Demodex sp na pele. Este ácaro é  considerado como parte da microbiota cutânea, ou seja, todos os cães os possuem em pequena quantidade nos interior dos seus folículos pilosos, adquiridos pelo  contato com a mãe durante os primeiros dias de vida. Além do ácaro Demodex canis, que é o mais comum,  outros ácaros deste mesmo grupo como Demodex injai e Demodex de corpo curto, podem também levar ao quadro da doença. Apesar de todos os cães abrigarem este ácaro em pequenas quantidades em seus folículos pilosos, somente em alguns cães, estes ácaros se proliferam exageradamente a ponto de causar a doença sarna demodécica.

Os mecanismos responsáveis pela multiplicação excessiva do ácaro além do normal com consequente manifestação da doença, ainda não é totalmente compreendido, mas acredita-se que fatores genéticos, principalmente na demodicidose juvenil (quando manifestada em animais jovens, até 1 ano de idade) e  fatores imunológicos ( queda de resistência, imunossupressão), endoparasitismo, má nutrição, doenças sistêmicas graves, uso de medicamentos que suprimem a ação do sistema imunológico, contribuam para o desenvolvimento da doença.

A sarna demodécica, pode ser classificada, quanto a sua manifestação, como localizada: quando acomete de 4 a 6 áreas de lesões como falha de pelo, eritema (vermelhidão), descamação. Esta forma da doença é considerada como sendo benigna, pois raramente generaliza-se para outras partes do corpo e muitos cães podem apresentar cura espontânea ( sem uso de medicamentos).  Já a forma generalizada atinge proporções maiores da superfície corpórea podendo se estender por todo o corpo.

Quanto a idade de manifestação da doença, a sarna demodécica pode ser classificada como juvenil ou do adulto, juvenil quando os primeiros sintomas aparecem  até 1 ano de idade para cães de pequeno e médio porte e 1,5 ano para cães de grande porte, e como sarna demodécica do adulto, quando acomete animais na fase adulta. Em cães, que manifestam o quadro de demodicidose pela primeira vez na fase adulta, é necessário, investigar a possibilidade de outras doenças, visto que pode ocorrer em virtude de diminuição da imunidade.

As lesões que a sarna demodécica causa varia desde uma simples falha de pelo, com vermelhidão e descamação, desde lesões como pápulas, pústulas, crostas, secreção piosanguinolenta quando da infecção secundária por bactérias da pele. Com o progredir da doença a pele do animal pode ficar hiperpigmentada ( dai o nome sarna negra), espessa e com alteração da oleosidade. Alguns animais podem apresentar febre, prostração, diminuição do apetite e com aumento dos linfonodos (“ínguas”).

A sarna demodécica deve ser diferenciada de doenças que podem apresentar sintomas clínicos semelhantes como: piodermites, dermatofitose, pênfigo foliáceo, leishmaniose, adenite sebácea, seborreia  entre outras.

O diagnóstico da doença é feito através do exame parasitológico de raspado cutâneo ( raspado de pele) e suas variações, no qual se pode evidenciar a presença de grande quantidade de ácaros.

O tratamento da sarna demodécica é longo, geralmente de 4 a 8 meses, e o ideal é  que o tratamento só seja interrompido após a obtenção de dois raspados de pele negativos para o ácaro, com intervalos mensais, a fim de que se evite recidivas da doença após a suspensão do tratamento. Um das grande falhas de tratamento ou recidivas, é a interrupção precoce do tratamento, baseada somente na melhora clínica das lesões e não na negativação dos raspados de pele.


Atualmente, existem muitos medicamentos para o tratamento da sarna demodécica, e quando realizado da maneira correta, os animais respondem muito bem ao tratamento, embora, haja uma pequena parcela de cães que podem apresentar recidivas constantes, indepedentemente do tratamento empregado.

Todos os medicamentos utilizados para o tratamento da demodicidose são capazes de induzir efeitos colaterais como: vômito, diarreia, tremor, sonolência, incoordenação motora, até convulsões, por isso, é extremamente importante o acompanhamento do médico  veterinário por todo o tratamento até a obtenção da alta clínica.





DERMATITE PSICOGÊNICA FELINA

DERMATITE  PSICOGÊNICA  FELINA

A alopecia psicogênica é um distúrbio comportamental que se manifesta através do arrancamento ou lambedura  dos pelos, provocada por toalete (grooming) excessiva ou inadequada. Cuidados excessivos de toalete fora de contexto pode ser   um comportamento obsessivo-compulsivo deflagrado por ansiedade e estresse por fatores ambientais, como por exemplo:  mudança de ambiente, doença, cirurgia, mudança de rotina, mudança no convívio com outros animais e pessoas.

Como a maioria dos gatos passa grande parte do dia fazendo toalete, o proprietário pode não perceber que as falhas de pelos são auto induzidas, além disso muitos gatos também podem esconder-se para realizar o toalete excessivo ou o arrancamento dos peles. Gatos de raça pura, com comportamentos nervosos, sensíveis, ciumentos são possivelmente predispostos, mas pode ocorrer em qualquer raça, inclusive em gatos sem raça definida.

A falha de pelo ocorre quando o gato faz a toalete com agressividade suficiente para remover os pelos, mas não vigorosa suficiente para machucar a pele, que em geral se encontra íntegra, sem sinais de inflamação. A falha de pelo pode ser localizada, regional, multifocal ou generalizada e podem ocorrer em qualquer parte do corpo que o gato consiga lamber, sendo mais frequentemente observada na face interna das pernas anteriores e posteriores, região inguinal, perineal e abdômen ventral. A falha de pelos pode ter uma apresentação simétrica e bilateral. Os proprietários podem notar presença de pelos nas fezes e também pelos vomitados com frequência.

A dermatite psicogênica deve ser diferencia de doenças que causam coceira e que também podem ser auto induzidas, como: dermatite alérgica à picada de pulgas, alergia alimentar, atopia, ácaros (escabiose, queiletielose, linxacariose, demodicidose, otocariose),  ectoparasitas (pulgas, piolhos) e dermatofitose.

O diagnóstico da alopecia psicogênica é estabelecido mediante a exclusão das doenças descritas acima que podem resultar em falhas de pelo e coceira, e no histórico de um evento estressante.

O tratamento para dermatite psicogênica é realizado por meio de drogas que visam modificar o comportamento, e principalmente, na identificação e eliminação dos fatores externos estressantes que possam ter desencadeado o quadro,  e assim interromper o comportamento obsessivo-compulsivo/ansiedade, que desencadearam o quadro de alopecia auto induzida.

Em alguns animais, o tratamento pode ser interrompido após 3 a 6 meses o início do tratamento sem recidivas do quadro, em outros animais porém, o tratamento precisa sem mantido por tempo indeterminado. 


22 agosto 2014

ENTENDENDO A ALERGIA (HIPERSENSIBILIDADE) ALIMENTAR EM CÃES E GATOS


A alergia alimentar é uma reação adversa a alimento de ordem imunológica, ou seja, ela ocorre devido a uma reação inadequada do sistema imunológico frente a um tipo de alimento e que se manifesta através de sintomas gástricos e principalmente cutâneos.

1.     Alergia Alimentar x Intolerância alimentar

É importante diferenciar alergia alimentar de intolerância alimentar. A intolerância alimentar ocorre devido a falhas na digestão/ processamento (deficiências de enzimas) de certos alimentos pelo trato gastrointestinal e NÃO tem a participação do sistema imunológico. Já na alergia alimentar, o sistema imunológico, passa a identificar certos alimentos como “nocivos” passando a reagir contra eles.

Enquanto que na intolerância alimentar, os sintomas são principalmente do trato gastrointestinal com presença de vômitos e alteração das fezes, na alergia alimentar os sintomas são principalmente dermatológicos, manifestando-se por coceira no corpo, lambeduras das patas, otite, coceira em região perianal.

2.     Quais alimentos que podem desencadear alergia alimentar?

A alergia alimentar pode ocorrer frente a qualquer alimento, porém os alimentos de origem animal como: carne bovina, frango, leite e derivados, ovo, peixe, assim como certas fontes de proteína vegetal como soja, trigo, milho são os mais implicados no caso de alergia alimentar em animais. Em animais, ainda não foi comprovada a alergia à aditivos e corantes alimentares, e o papel de frutas, legumes, verduras ainda também não foi bem estabelecido.

É importante, que o proprietário entenda que a partir do momento que o animal desenvolve alergia a determinado tipo de alimento, como por exemplo, carne bovina, seu animal vai reagir contra qualquer tipo de alimento que tenha carne bovina na composição, seja carne in natura, ( independentemente do tipo de corte, ou se é com ou sem gordura), ossos bovinos naturais e artificiais, petiscos caninos ou rações que contenham carne bovina em sua composição, e assim por diante...

3.     Meu animal sempre comeu um determinado tipo de alimento, então ele não pode ter alergia a ele?

Este é mais um pensamento enganoso, pois o processo que desencadeia alergia alimentar pode ser imediato (choque anafilático, raro em animais) ou extremamente longo (meses a anos), ou seja, para que a alergia a determinado tipo de alimento possa ocorrer é necessário que o animal seja exposto a este alimento com uma certa regularidade, sensibilizando assim seu sistema imunológico frente a este alimento, até que em um determinado momento, este sistema imunológico já sensibilizado passa a não tolerá-lo mais reagindo contra ele. Um exemplo: tem pessoas que sempre comeram frutos do mar e nunca tiveram problema de alergia, de uma hora para outro no entanto, podem ter uma reação alérgica grave ao comerem frutos do mar... o mesmo é válido para o animais. O fato do animal sempre ter comido o mesmo tipo de alimento não descarta a possibilidade dele começar a ter alergia a ele, pelo contrário, quanto maior frequência e exposição a determinados tipos de alimento maiores são as chances e mais graves os sintomas de alergia.

4.     Quais são as características/sintomas da  alergia alimentar?

A alergia alimentar pode ocorrer em gatos e cães de qualquer faixa etária, desde filhotes com menos de 1 ano de idade, a pacientes idosos com mais de 10 anos, podendo acometer animais de qualquer raça e sexo.

A real ocorrência da alergia alimentar é desconhecida, acredita-se que 10% dos cães alérgicos, podem ter sua alergia decorrente de alimentos, sendo a alergia à picada de insetos e a dermatite atópica muito mais frequentes.

O principal sintoma da alergia alimentar é  a coceira, que pode ser localizada ou generalizada, principalmente em regiões de orelha ( quadros de otite repetitivo), região perineal, lambedura das patas, região inguinal e axilar, região de face periocular  e perilabial, cervical (pescoço) e flancos.

A pele pode ficar rosada / avermelhada e podem surgir pápulas ( bolinhas vermelhas) e urticárias. Pelo se coçar frequentemente, os animais podem começar a ter falhas de pelo, escoriações, descamação. Com agravamento e cronicidade do quadro alérgico a pele pode começar a escurecer (hiperpigmentação) e ficar espessa (hiperceratose e lignificação).

Animais com alergia alimentar, devido às alterações inflamatórias na pele decorrentes da alergia alimentar, frequentemente apresentam episódios de infecções bacterianas (piodermite superficial) e por leveduras (malasseziose tegumentar e otológica) de forma repetitiva. Em alguns animais, a alergia alimentar manifesta-se somente com quadros repetitivos destas infecções, sendo a coceira mínima ou até mesmo ausente.

5.     Existem outras doenças de pele que são semelhantes à alergia alimentar?

Os sintomas causados pela a alergia alimentar podem ser muito semelhantes a outras doenças de pele como: piodermite superficial, erupção medicamentosa, malasseziose tegumentar, sarnas, alergia à picada de pulgas e principalmente a dermatite atópica, por isso, é de extrema importância que o médico veterinário através de um histórico clínico detalhado e exames minuciosos possa fazer distinção destas patologias. Infelizmente, a dermatite atópica e alergia alimentar apresentam o mesmo comportamento e as mesmas características clínicas, sendo impossível distinguí-las clinicamente, devendo sempre que possível a alergia alimentar ser investigada antes do estabelecimento do diagnóstico definitivo de dermatite atópica.  

6.     Como é feito o diagnóstico definitivo da alergia alimentar?

O primeiro passo para o diagnóstico da alergia alimentar é excluir outras doenças de pele com características e comportamento semelhantes (questão 5).

a)     Existe algum exame que possa ser feito para diagnosticar alergia alimentar?

Atualmente, não existem testes de alimentos como teste sorológicos ou intradérmicos que sejam confiáveis, padronizados para o diagnóstico de alergia alimentar em cães e gatos, portanto, estes não são recomendados atualmente para seu diagnóstico.

A única forma recomendada e comprovada para diagnóstico de alergia alimentar pela Sociedade de Dermatologia Veterinária Europeia, Americana e Brasileira é o teste de restrição alimentar seguido da reexposição do alimento suspeito.

Durante este período de restrição alimentar, o médico veterinário modifica a dieta do animal por um período de 6 a 9  semanas, no qual é avaliado o comportamento da doença frente a mudança da alimentação. Caso a causa da alergia seja alimentar, uma melhora dos sintomas clínicos é esperada dentro de no mínimo 30 dias, é válido ressaltar, que a melhora clínica não é imediata, ela pode demorar até 30 dias após a modificação da dieta para ocorrer, por isso, é que não se pode excluir a possibilidade de alergia alimentar antes de 6 semanas da modificação do alimento.
     
No caso de melhora clínica dos sintomas cutâneos com a modificação da alimentação, os alimentos suspeitos devem ser reintroduzidos um de cada vez a intervalos de preferência quinzenais, onde irá se observar a recidiva do quadro cutâneo frente a reexposição. O diagnóstico de alergia alimentar só é então estabelecido de forma definitiva, quando animal que apresentou melhora com sua retirada, volta a apresentar piora frente a sua reintrodução, dai a importância de se introduzir um alimento de cada vez com intervalos semanais ou quinzenais entre eles.

Muitos proprietários, no entanto, frente a melhora clínica que o animal apresenta durante o período de restrição ficam desencorajados a realizar a etapa de reintrodução de alimentos suspeitos com medo de recidivas e assim, preferem manter a dieta de restrição por tempo indeterminado.

7.     Todas as rações no mercado ditas hipoalergênicas são realmente hipoalergênicas?

Infelizmente, nem todas as rações comercializadas como hipoalergênicas são realmente hipoalergênicas, o que gera muita dúvidas e engano, por isso, a mudança da alimentação, deve ser orientada pelo médico veterinário, que poderá optar por utilizar determinadas rações comerciais (especiais  como as  hidrolisadas ou formulada com  novas fontes de ingredientes) ou até mesmo uma dieta caseira para a investigação do quadro de alergia alimentar.  A escolha da dieta de restrição irá se basear no histórico de alimentação prévio do animal.

Muitas vezes, a dificuldade para se investigar e diagnosticar o quadro de alergia alimentar esbarra na falta de colaboração por parte dos  próprios proprietários, que por hábito ou comoção com animal, não seguem as orientações de restrição alimentar de forma correta, o que infelizmente não permite a adequada investigação  e diagnóstico da alergia alimentar.

Embora a alergia desencadeada por alimentos seja rara comparando-a com alergia à picada de insetos e a dermatite atópica, é válido ressaltar que a mudança dos hábitos alimentares, podem resultar na “cura” do quadro alérgico, permitindo assim que o animal fique livre de todo desconforto causado pela coceira e lesões de pele, melhorando sua qualidade de vida e o livrando do uso contínuo de medicamentos.

Fonte: Dra Camila Domingues de Oliveira CRMV/SP 19316
Proibida a veiculação deste artigo sem prévia autorização

11 agosto 2014

ADENITE SEBACEA

A adenite sebácea é uma doença inflamatória destrutiva das glândulas sebáceas. É uma doença rara, que ocorre principalmente em cães adultos e de meia idade. É mais comum nas raças Samoiedas, Vizlas,  Akitas, Standards Poodles, nestas duas últimas raças acredita-se que possa existir um modo de hereditariedade autossômico recessivo. Apesar de a doença ser mais relatada nestas raças, ela também pode ocorrer em outras raças de uma forma menos frequente.

Os sinais clínicos  envolvem descamação, falhas de pêlos difusas ou localizadas, perda de pêlos secundários que conferem aspecto de aspereza aos pêlos, ressecamento da pele e do pelame.

Em cães de pelagem curta, as escamas são finas e não aderentes, enquanto, que nos cães de pelame longo, as escamas podem ser firmes e aderentes, muitas vezes formando grumos ao redor dos pêlos ( cilindros foliculares). A doença pode permanecer localizada ou generalizada, afetando principalmente região de tronco, orelhas e cauda. Infecções por bactérias e leveduras são complicações da doença, e pode levar presença de crostas, pápulas (“bolinhas vermelhas”), pústulas (“espinhas”) e coceira de intensidade variável.

A adenite sebácea pelo seu aspecto clínico deve ser diferenciada de outros quadros dermatológicos como: seborreia, piodermites, sarna demodécica, leishmaniose.

O diagnóstico definitivo, é realizado por meio do exame de biópsia (retirada de fragmentos da pele), seguido do exame histopatológico, onde é observado presença de processo inflamatório importante contra as glândulas sebáceas e folículos pilosos, com destruição parcial ou total das glândulas sebáceas, que são substituídas por tecido fibroso. Além disso, os folículos pilosos podem estar  obstruídos por queratina e material sebáceo.

O tratamento da adenite sebácea deve ser realizado por toda a vida do animal com suplementação de ácidos graxos e vitaminas do complexo A e E, terapia tópica anti-seborreica e hidratantes e o uso de medicamentos com capacidade de modular o sistema imunológico, diminuindo/ou aniquilando o processo inflamatório contra as glândulas sebáceas.

                                   Antes do Tratamento

Adenite Sebácea

                                                                   Depois do Tratamento

Adenite Sebácea


Quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores são as chances dos animais responderem ao tratamento e apresentarem remissão completa dos sinais clínicos. Apesar de não existir cura para a doença, com o tratamento é promover a remissão completa dos sinais clínicos e manter a doença sob controle, permitindo que animal possa voltar a ter um pelame bonito e viçoso.

                                       Antes do Tratamento



                                                                Depois do tratamento





Fonte: Dermatologia de Pequenos Animais - Keith A. Hnilica , 2011; Dra Camila Domingues de Oliveira

Síndrome Úveo Dermatológica

Síndrome úveo dermatológica é uma doença rara, que tem como causas fatores hereditários e imunomediados (devido ao funcionamento anormal do sistema imunológico) não totalmente esclarecidos.

Os animais com esta síndrome produzem auto anticorpos contra os melanócitos, células presentes nos olhos e também na pele, responsáveis pela produção de melanina, pigmento responsável pela coloração da pele e pêlos, presente também nos olhos, levando ao quadro de panuveíte granulomatosa ( inflamação generalizada  dos olhos), despgimentação da pele e dos pelos.

Ocorre com maior frequência em cães adultos jovens e de meia idade, especialmente em Akitas. As raças mais acometidas são: Akitas, Husky Siberiano, Samoieda, Chow Chow, Setter Irlândes, Teckel, Pastor de Shetland, São Bernardo, Old Englis Sheepdog e Fila brasileiro.

Os sinais clínicos oculares, podem ser de rápido surgimento com diminuição ou ausência dos reflexos pupilares à luz, blefaroespasmo, fotofobia, uveíte anterior, precipitados ceráticos, hifema, coriorretinite, conjuntivite, descolamento de retina, catarata, glaucoma, cegueira.

Os sinais oculares podem desenvolver antes, junto com os sinais da pele, ou após o surgimento destes. Os sinais dermatológicos incluem: despigmentação do focinho, lábios e pálpebras. Ocasionalmente, a bolsa escrotal, vulva, ânus, coxins, palato duro também podem sofrer despigmentação. Além da despigmentação, a pele pode tornar-se ulcerada, erodida, crostosas, e mais raramente, pode haver despigmentação generalizada não só da  pele como também  do pelame.

A síndrome úveo dermatológica deve ser diferenciada de outras doenças imunomediadas como lúpus eritematoso discoide e pênfigo, neoplasias como linfoma epiteliotrópico e doenças discrômicas como o vitiligo.

O diagnóstico definitivo é estabelecido por meio do exame de biópsia (retirada de fragmentos cutâneos) seguido da análise histopatológica, que demonstra, incontinência pigmentar, dermatite de interface liquenoide com células inflamatórias como histiócitos, plasmócitos e  linfócitos.

A síndrome úveo dermatológico não tem cura, e o  tratamento deve perdurar por toda a vida do animal. Para o controle da doença, utiliza-se drogas que tem a capacidade de modular (regular) o sistema imunológico, diminuindo/aniquilando a resposta inflamatória contra a pele e os olhos, como: corticoides, azatioprina, ciclosporina, tetraciclina e niacinamida, ciclofosfamida. Além das medicações sistêmicas de uso oral, no início do tratamento também são utilizados colírios como auxiliares no tratamento.

                                      Antes do tratamento



                                                         



Quanto mais cedo for estabelecido o diagnóstico e iniciado o tratamento, melhores são as chances de sucesso e menor a possibilidade sequelas nos olhos.  O tratamento perdura o resto da vida, e embora em grande parte dos animais é  possível estabelecer um bom controle, em outros animais, pode haver quadros de piora da doença mesmo com a manutenção do tratamento.

A chave do tratamento, é estabelecer dose dos medicamentos que mantenham a doença sob controle, sem entretanto, prejudicar a saúde do animal pelos efeitos colaterais inerentes a todas as drogas. Por ser uma doença crônica requer acompanhamento constante, porém é possível dar aos animais qualidade de vida e expectativa de vida.


Fonte: Dermatologia de Pequenos Animais - Keith A. Hnilica , 2011; Dra Camila Domingues de Oliveira

PÊNFIGO FOLIÁCEO EM CÃES E GATOS

O pênfigo foliáceo é uma doença autoimune (causada pelo funcionamento inadequado do sistema imunológico), caracterizada pela produção de auto - anticorpos contra certas proteínas (desmogleínas, desmocolinas) presentes nas células da pele, também chamadas de queratinócitos. A destruição destas proteínas pelos auto - anticorpos, fazendo com que as células da pele percam a coesão entre si e se separem, processo conhecido como acantólise, levando a formação das lesões cutâneas.

O pênfigo foliáceo, pode ocorrer de forma espontânea (sem ter um fator desencadeante), ou pode ser secundário ao uso de certos medicamentos, a doenças crônicas da pele, neoplasias.

O pênfigo foliáceo ocorre em cães e gatos, podendo afetar qualquer idade, sexo e raça. Dentre os cães, as raças mais frequentemente acometidas são Chow Chows e  Akitas.

As lesões provocadas pelo pênfigo compreendem: pústulas (“ espinhas”), vesículas (“ pequenas bolhas”), erosões, crostas, colarinhos epidérmicos, falha de pelo, despigmentação em pálpebras e focinhos. Em gatos, as unhas e os mamilos podem estar acometidos por crostas e secreção purulenta.

As lesões costumam afetar região de plano nasal, focinho, coxins (almofadinhas), orelhas, locais bastante característicos destas doenças,  mas também podem generalizar-se pelo corpo todo. Alguns animais podem apresentar diminuição do apetite, febre, prostração, depressão.

O pênfigo foliáceo deve ser diferenciado de outras doenças com sintomas clínicos semelhantes como: piodermite, sarna demodécica, leishmaniose, dermatofitose, outras doenças de caráter imunomediado, linfoma epiteliotrópico, reação a medicamentos ( farmacodermia) entre outras.

O diagnóstico definitivo é realizado por meio de biópsia ( retirada de fragmentos cutâneos) seguido de análise histopatológica, onde se observam presença de pústulas no interior da epiderme repletas de células inflamatórias como neutrófilos, eosinófilos e também acantócitos, que são as células da pele que sofreram ação dos autoanticorpos.

Pênfigo foliáceo é considerada uma doença grave, que não apresenta cura, o que significa que o tratamento precisa ser mantido por toda a vida do animal. Entretanto, com o tratamento é possível alcançar a remissão dos sinais clínicos e manter a doença sob controle em grande parte dos animais. Alguns cães, entretanto, não apresentam boa resposta ao tratamento, podendo apresentar quadros repetitivos de piora, independentemente do tratamento instituído (casos refratários, não responsivos).

Para o tratamento utilizam-se medicamentos que tem a capacidade de regular/modular o sistema imunológico, diminuindo/inibindo a resposta inflamatória e o “ataque” contra as células da pele, conhecida como drogas imunossupressoras como: corticoides, azatioprina, micofenolato de mofetila, ciclosporina, ciclofosfamida, entre outros.

A chave do tratamento, é estabelecer dose dos medicamentos que mantenham a doença sob controle, sem entretanto, prejudicar a saúde do animal pelos efeitos colaterais inerentes a todas as drogas. Por ser uma doença crônica requer acompanhamento constante, porém é possível dar aos animais qualidade de vida e expectativa de vida.


Fonte: Dermatologia de Pequenos Animais - Keith A. Hnilica , 2011; Dra Camila Domingues de Oliveira 

                                                                                                     Antes




                                                                                    2 meses de tratamento




                                                                                                 Antes do Tratamento




                                                                                              
                                                                                        Depois do Tratamento